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A Magia da dança Flamenca

A música e a dança fazem parte da tradição mais antiga dos ciganos. seus mágicos acordes influenciaram grandes mestres da música universal como bach, lizst, monti e Bizet.




festa no acampamento!

Diz uma antiga lenda que os ciganos dançam desde o útero materno. Já nascem realizando uma coreografia própria de quem tem sangue cigano nas veias. Este sim é o verdadeiro sentido do bailado cigano. Alegre ou melancólica, a dança cigana é realizada de corpo e alma, seja para comemorar, louvar ou fazer surgir do fundo da alma a resistência, que justifica a trajetória deste povo pelo mundo. Prova disso são os inúmeros ritmos da dança: bulerías, alegrias, tanguilhos, sevilhanas, rumbas, farrucas, soleares.

Através do Flamenco, ritmo que ganhou maior expressão na Espanha, os ciganos que vieram primeiramente para o Brasil, encantaram nobres e plebeus nas festas do Campo de Sant’Ana e do pátio interno do Paço Imperial, no Centro do Rio de Janeiro, conhecido como Pátio dos Ciganos.

A dança flamenca, identificada como a dança tipicamente espanhola e cigana, tem uma história de perseguição muito semelhante a dos ciganos. O nome flamenco deriva do árabe jelah mengu, que quer dizer camponês foragido. A dança é uma mistura de elementos judaicos, espanhóis e muçulmanos, e surgiu de forma clandestina, nas grutas e cárceres por onde passavam os perseguidos pelas leis de Espanha, principalmente no tempo da Inquisição.

Quem assiste a um baile flamenco, sente que os movimentos do corpos dos bailarinos comunicam um sentimento forte, fruto de uma revolta e de um grande inconformismo, cheio de altos e baixos emocionais. É mesmo impossível não perceber que nos taconeos ou sapateados a dança flamenca marca o compasso do coração humano, que ora salta de alegria e outras horas arde de dor e tristeza. Dança de movimento vibrante, o grande êxtase do Flamenco é mostrar o vigor e a vitalidade dos movimentos de mãos, braços e sapateados que traduzem paixão, alegria, a melancolia transformada em força e o amor pela vida, justificando a resistência a todas as formas de perseguições.



OS RITUAIS DE SEDUÇÃO DA DANÇA



Arde uma fogueira no meio do acampamento. É dia de festa e as violas somam seus acordes às castanholas e pandeiros. As danças de fundo cerimonial são executadas dentro dos clãs, e não se prestam aos espetáculos públicos.

Fruto da assimilação dos elementos de outras culturas, uma das mais famosas é a Dança dos Lenços, inteiramente ritualística. No Flamenco o mantón e o xale substituem os lenços das demais danças ciganas. Ambos são aparatos de proteção e ao mesmo tempo de sedução. A mulher parece desnudar-se para seu amado, como se descobrisse para ele o próprio corpo e o próprio segredo de amor.

Através do leque a mulher comunica sua determinação ao abri-lo, num movimento rápido de som agradável e forte. Assim que consegue atrair a atenção do homem, assume a postura soberba de uma rainha ou de uma recatada donzela, encobrindo o rosto para estimular seu pretendente a demonstrar suas verdadeiras intenções. Ritualisticamente é comum dançar abanando o leque sobre a cabeça e ao redor do corpo, para ativar a energia física e chamar os bons espíritos.

No tango espanhol, bem diferente do tradicional tango argentino, é produzido com movimentos sensuais estimulantes, utilizando como adereço um chapéu que, se retirado da cabeça da bailarina, pode ser levado à altura dos quadris e do peito. Tem um belo ar majestoso, temperado de humor. Porém, mais rápido, é conhecido como tanguilho. As castanholas, de origem moura e indiana, produzem a percussão que fazem dos improvisos entre bailarinos e guitarristas verdadeiros diálogos de grande carga dramática. O som das castanholas ativam a energia do ambiente, produzindo uma limpeza energética que afasta maus fluidos.



OS SEDUTORES RITMOS FLAMENCOS

Soleá - ritmo-mãe do flamenco. A palavra Soleá é uma abreviatura cigana para Soledad-solidão. Seus acordes melancólicos traduzem o lamento, a dor da perda.

Alegría - tem o ritmo idêntico ao do soleá, porém mais vibrante, alegre de acordes animados.

Bulería - ritmo que possui variantes na dança. Transformam espontaneamente o ritmo festivo do Flamenco em paixão, hipnotizando a platéia. A palavra Bulería, vem de burlar, enganar.

Sevillanas - As populares sevillanas andaluzas têm um ritmo contagiante e alegre. São geralmente dançadas em duplas de homens, mulheres e crianças. Desdobram-se em quatro partes, quando acontecem as mudanças dos pares.

Farruca - A sóbria e viril farruca é comumente dançada por homens. Mas hoje em dia, as melhores bailarinas flamencas também exibem a destreza de seus passos na farruca, como a famosa Sara Baras. O próprio nome farruca significa valente.

Mallaguenha - A província de Mallaga desenvolveu seu próprio ritmo flamenco e criaram seu próprio canto apropriado a um estado de espírito cujas letras acompanham as mais profundas emoções humanas.

Seguiriyas - Ritmo de grande descarga emocional, é o mais cigano do flamenco. Seus acordes e sapateados soam como desabafos e reclamações pelo amor perdido, pela falta de liberdade, pelo ódio ou revolta, exigindo do bailarino e do guitarrista muita vibração emocional.



Hay de tener la sagre de los gitanos para bailar el flamenco!

A dança flamenca é a dança da energia vital. Batemos os pés num tablado para receber da terra a resposta sonora que traz força e coragem. O Baile Gitano, como é chamada a dança, tem que ser realizado de corpo e alma. A expressão dos olhos é decisiva para a interpretação correta dos ritmos.

A coreógrafa Liane de Luna, especializou-se em Madrid e baila o flamenco gitano há mais de dez anos. É ela quem ensina:

A mulher que baila o flamenco tem uma postura firme e sedutora. Todo o gestual da dança reúne energia, beleza, sedução e a paixão gitana. As mãos dão e oferecem carinho e a energia dos bailarinos. Como duas pombas, desenham círculos no ar. Os braços cruzam-se para marcar o poder explosivo do encontro com a dança. Quando abertos ou ao alto revelam a entrega do personagem ao público. Para baixo, a espera consciente, e braços ao lado do corpo, caminhado, num paseo romântico. Texto de Liane de Luna, professora e bailarina de danças cigana, flamenca e árabe.

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